Carnaval

Ano passado eu disse a mim mesma que não iria para a Barra de novo. Mas fui.

Em alguns momentos foi chato. Pra cê ter uma noção eu estava com saudades do livro que estou lendo enquanto a galera da casa em que eu estava enchia a cara de cachaça e a pança de comida. Não leve a mal, o pessoal é gente boa, eu é que não interajo. Ainda mais que lá é praticamente todo mundo parente e eu sou uma agregada.
Foi assim porque das minhas amigas do ano passado uma não foi e a outra tá de namorado.
Eu queria muito mais alguém pra ir comigo tomar banho de mar, pular da ponte, deixar a correnteza me levar uma vez e depois ficar com medo de pular de novo enquanto a galera cairia e eu ficaria vendo o pôr do sol com Mel enquanto pulavam e faziam palhaçadas e um menino conhecido me perguntava se eu sabia andar de caiaque e eu diria que mais ou menos, porque já tinha andado uma vez, mas tinha sido numa lagoa e naquela hora, no mar, a correnteza tava mesmo muito forte e eu não teria força pra remar e depois eu iria sentar na areia e um outro garoto, um que tava tirando onda no jet-ski e fazendo a ponte de madeira balançar com as marolas, atrapalhando os pulos ornamentais dos meus amigos, me convidava pra ir com ele, mas eu ficaria com vergonha e com medo depois de ver as rabiadas que ele dava no jet. O medo seria só uma desculpa, porque eu estaria mesmo era com vergonha.

Perdi o caiaque e o jet. O jet por vergonha e o caiaque por medo. Cês não tavam lá pra ver a força daquela água. Quando eu pulei e tentava nadar contra pra me agarrar numa corda e depois em outra pra chegar no raso... eu tava acabada, e o pior, estava no raso e continuava me debatendo desesperada enquanto riam da minha cara.

Se eu tivesse encontrado com o pessoal todos os dias teria sido muito massa. Mas foi só massa mesmo.
De noite tinha festa com umas bandas daqui da região. Tinham praticamente o mesmo repertório. Quase todas - senão todas - tocaram Eu te amo, porra Ai se eu te pego e várias de Ivete. Mas eu tava ligando? Que nada! Dancei um bocado, mas nunca ia muito tarde pra casa. Não que tivesse algum problema com violência ou coisa assim, eu cansava mesmo. Descobri que gosto de Ivete e de Tomate e de axé.

Fora os blocos, né. Nas muquiranas até o prefeito se fantasiou de mulher. Os caras  ficam muito devassos. Se fantasiam de puta e ficam tarando uns aos outros. Teve de novo o bloco do pó com as marchinhas de antigamente. É muito legal. Taco pó em todo mundo, principalmente nos que estão de cabelo limpo e depois fico com vergonha de mim mesma. Até agora estou com vergonha de uma pessoa que eu sujei. O carro que puxava o bloco já tinha ido, e o pessoal se espalhado pelo circuito da festa principal, ainda ao som de marchinhas, e ainda todos sujos, quando chegou um conhecido todo limpinho, com cara de quem tinha acabado de sair do banho. Não resisti, e estou com vergonha até agora.
Ao perceber que não havia mais ninguém segurando um recipiente com talco - é, quanto mais suja eu estava, mais queriam me sujar, e acabei arrumando um coleguinha no meio disso. Bandido ele. Me pediu meu talco emprestado e eu bestalhada emprestei pra ele rumar em mim mesma. Nem deu pra gente ficar amiguinho, ele foi embora no dia seguinte e nem me deu tchau -, resolvi me limpar no mar, mas não antes de ir em casa, pegar alguma coisa que não lembro agora. Mano, quando me olhei no espelho tomei um susto. Eu estava hor-ro-ro-sa. Toda suja de talco misturado com farinha de trigo e os cabelo lá em cima, todo alvoraçado.

Saí de lá dizendo pra mim mesma que não vou voltar ano que vem. Veremos.

Comentários

Postar um comentário

Dispa-se ou vista-se. Como preferir.

Postagens mais visitadas deste blog

Livro | Os sete maridos de Evelyn Hugo (Taylor Jenkins Reid)

Livro | Almas Fartas - Matheus Tévez e Ruan Passos

Alien azul