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Mostrando postagens de dezembro, 2021

[silêncio]

Lá estava eu atendendo as dezenas de fichas que recebo no plantão. Eis que no meio da rotina recebo a ficha de um homem jovem com dor de cabeça, sem comorbidades, aparentemente sem sinais de gravidade. Chamei. Enquanto eu questionava e examinava ele,  percebi uma postura diferente e resolvi perguntar de novo se ele tinha alguma doença ou condição de saúde mental.  Era isso. Ele tinha depressão e tinha parado o tratamento por conta própria.  Acolhi o melhor que pude, no tempo que a emergência permite, e então abaixei os olhos para prescrever.  Então ele tocou a minha mão.  Então eu parei o que estava fazendo e olhei nos olhos dele. [silêncio] Por quanto tempo vamos sustentar esse toque e esse silêncio? Deixei que ele decidisse. Eu vi tanta profundidade naquele olhar que me senti desconfortável.  Tanta profundidade que cheguei perto de chorar. Em parte porque senti que também fui vista, e portanto vulnerável.  [silêncio] Ele recolheu a mão. Olhou para baixo. Me dei por satisfeita e conti

Sobrevivi

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Outro dia desabafei dizendo como a finalização da faculdade não estava me trazendo bons sentimentos, e o quanto eu me sentia insegura para estar nos meus primeiros plantões. Bom, aqui estou após a minha primeira semana de plantonista. Sobrevivi. Consegui emprego em dois lugares, o que está sendo ótimo. Acho melhor do que ter vários plantões espalhados nas pequenas cidades dos arredores. Primeiro plantão de todos, na emergência de um hospital de uma cidadezinha aqui próxima. Conferindo doses de todos os medicamentos prescritos, e justamente por isso demorando mais do que o esperado nos atendimentos. Eu conversava demais também, mas me corrigi porque percebi que não dá pra fazer isso na emergência. A equipe que me salvou várias vezes, todo mundo muito parceiro, compensando minha inexperiência. Deu certo. Após um parto, estabilização de pacientes baleados, uma barata retirada de um ouvido e várias outras coisinhas... sobrevivi. Dois dias depois lá estava eu pronta para duvidar de minha ca

o post iria se chamar /vergonha literária/ mas no meio do texto descobri que não

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No ano passado eu consegui ler bastante, atingi minha meta literária. Bom, na verdade eu não tinha nenhuma meta, mas se eu tivesse com certeza teria atingido. Foi um reencontro com minha eu-leitora, em grande parte por causa da aquisição do kindle, mas também por causa do tempo "livre", já que eu estava total de quarentena e completamente de saco cheio das redes sociais (ainda estou, porém menos). Li vinte e sete livros de nichos bem diversificados, e consegui fazer resenhas de vários. Esperava que em 2021 eu conseguisse ler pelo menos um livro por mês. Sim, dessa vez estipulei a meta de doze livros. E surpreendentemente consegui ler quatorze. Eu não imaginava que tivesse conseguido ler tanto.  Nos últimos meses eu li bem pouco, demorei demais para finalizar as leituras, e li alguns livros bem curtos em HQ, conto ou ensaio, por exemplo. Escrevi bem menos resenhas também, em parte porque não tinha tempo, e em parte porque queria me expor menos.  Inclusive, por falar em exposiç