Postagens

Mostrando postagens de maio, 2020

Papos sobre a covid-19: Tubaína e Globo News

Imagem
Eu estou escrevendo uma série de posts sobre o tratamento da COVID-19 que estão sendo postados no instagram. Não que existam muitas alternativas de tratamento, né? Até hoje NENHUM medicamento foi considerado eficaz pelas evidências científicas.  NENHUM. E acho muito curioso o interesse em afirmar que existe alguma substância milagrosa. Muito curioso mesmo. Lembrei até de um meme muito legal, que é uma imitação de uma publicação do New England comparando a cloroquina com a tubaína (1) . O estudo-meme chega a conclusão de que tubaína tem um gosto melhor, e eu ainda acrescento dizendo que a tubaína não tem nenhum estudo evidenciando que ela aumenta a ocorrência de arritmias e morte. A cloroquina sim . Temos muita pesquisa sendo desenvolvida em uma velocidade incrível. A cada semana vemos atualizações, artigos sendo publicados, pesquisas sendo desenvolvidas mundo afora... e algumas pesquisas importantes estão sendo realizadas no Brasil também, apesar de não recebermos muito in

Livro | Holocausto Brasileiro (Daniela Arbex)

Imagem
Forte. Pesado. Hospital Colônia de Barbacena. Foto de Luiz Alfredo. A certeza que eu tenho na vida é que eu choraria lendo a lista de compras de Daniela Arbex. Assim como em “Todo dia a mesma noite”, ela faz um trabalho impecável, elevando a narrativa para um outro patamar. Logo no prefácio levei vários tapas na cara. É brutal.  Daniela é uma relevante jornalista brasileira dedicada à defesa dos direitos humanos. O seu livro "Holocausto Brasileiro" foi eleito Melhor Livro-Reportagem do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (2013) e segundo melhor Livro-Reportagem no Prêmio Jabuti (2014). “O fato é que a história do Colônia é a nossa história. Ela representa a vergonha da omissão coletiva que faz mais e mais vítimas no Brasil. Os campos de concentração vão além de Barbacena.”  Quando ouvimos falar em holocausto a primeira imagem que vem à mente é a dos judeus e outras minorias que sofreram nos campos de concentração nazistas. Esse fato corresponde

Livro | Kindred: Laços de sangue

Imagem
Octavia Butler, autora deste livro, é conhecida no meio literário como "primeira dama da ficção científica". Algo importante de se ressaltar é a importância dela como mulher negra na literatura, principalmente nesse gênero, extremamente dominado por homens brancos. Octavia Butler Kindred é uma história de viagem no tempo. Sem deloreans ou tardis , aqui o impulso para essa viagem são os laços de sangue, como pode-se imaginar pelo subtítulo do livro. Dana, nossa personagem principal salta do século XX ao XIX, o que é um grande choque, mas poderia não ter grandes implicações se não fosse por ela ser uma negra caindo de paraquedas na Maryland escravocrata. O que a mantem nessas idas e vindas entre o passado e o presente são os laços com seus antepassados; relações que se baseiam em sentimentos conflitantes de amor, temor e ódio. E Dana, que em sua época, é uma mulher livre, culta e empoderada, passa pela dificuldade de abrir mão de como se identifica, para se descob

Cai a primeira grande ficha

Imagem
Deixei de ter a capacidade de escrever sobre assuntos pessoais em um blog. Daí a razão por eu ter adiado tanto para escrever sobre como está sendo a minha quarentena. Mas comecemos do princípio. Cerca de 36 dias atrás, fui na rua com um amigo comprar um adaptador de cabo hdmi entre outras coisas. Enquanto estávamos andando pelo comércio passamos por algumas lojas de eletrodomésticos, dessas que ficam com as paredes lotadas de televisões. Em cada loja um canal diferente sintonizado. Em todas as lojas a programação seguia o mesmo padrão: noticiários trazendo informações sobre a pandemia de Covid-19.  Desenho que fiz sobre esse dia. Não ficou dos melhores, mas passa a mensagem. E foi assim que a primeira grande ficha caiu. Antes desse momento a quarentena parecia uma coisa distante, a pandemia não parecia ser algo que iria atingir o nosso cotidiano. Mas a partir desse dia o estágio foi cancelado, não pudemos ir para as casas de nossas família, por quê andávamos no hospital

Livro | A insustentável leveza do ser - Milan Kundera

Imagem
Há tanto a ser dito sobre esse livro, que as ideias se embaralham e posso me perder no que é mesmo importante.  Positivo e negativo. Várias coisas na vida tem esses dois pólos. Claro e escuro. Cheio e vazio. Mas enquanto ao peso e à leveza? Qual o pólo positivo e qual o negativo nessa equação? Essa discussão vai sendo suscitada à medida que vemos como os quatro personagens principais carregam seus fardos ou lidam com ausências. Não vou mentir: eu estava detestando o livro no início. O texto me parecia muito corrido, com poucos detalhes. O ritmo era estranho, e eu não enxergava a profundidade. O ponto de vista de Tomas justificando suas escrotices, e descrevendo sua mulher amada como um ser imaculado era o que menos me interessava. Simplesmente insisti e sobrevivi à primeira parte. Mas depois quando os demais personagens passaram a ter suas personalidades aprofundadas eu comecei a gostar. Este quadro de Gustave Caillebotte (Homem jovem à janela) é como imagino Tomas em su

Livro | A morte é um dia que vale a pena viver

Imagem
Ana Claudia Quintana Arantes, autora desse livro, é uma médica geriatra, especialista em cuidados paliativos. Ouvi vários amigos falando super bem de Ana Claudia, principalmente Ana Luiza, que é a maior fã de Aninha Arantes que eu conheço. Com tantas indicações, eu fiquei bem curiosa sobre o livro. A morte é um tema que eu acho bem difícil de ser discutido, e nós vivemos em uma sociedade cheia de tabus com relação ao processo de morte. Busquei o livro justamente para tentar superar essa minha dificuldade. Esperava uma introdução ao tema dos cuidados paliativos, porque na faculdade de medicina vi muito pouco a respeito. Afinal, como a própria autora diz em diversos momentos, a educação médica ainda falha em preparar profissionais para lidar com a morte de pacientes. Desde o início fiquei impressionada com a forma simples de escrita sobre um tema tão complexo. A leitura flui como se fosse uma conversa. É um livro pequeno, que dá para ser lido rápido, mas eu preferi ir lendo mai

Eu deixo a porta aberta e o gato foge

As vezes eu entro em crise. Ultimamente tenho tentado mapeá-las. As vezes eu fico muito muito triste e desesperada e não sei a razão para tudo aquilo. Parece uma reação desproporcional para problemas pequenos, os quais tenho essa tendência a maximizar. Tenho essa tendência a maximizar tudo. Poeticamente: intensidade. Hoje eu estou tão voltada para dentro que nem parece que estou em crise. Não estou dando um show, digamos assim. Agitada demais para dormir, meditar ou relaxar. Mas a agitação é aqui dentro. Estou precisando de calmaria, mas são tantos estímulos. É o calor. O gato mia. O moço conversa na rua. A TV alta no quarto ao lado. A música calma que coloquei, mas que se confunde com todos os outros sons e não cria o efeito desejado. Solução: Fones de ouvido. Agora estou isolada e apenas a dor de cabeça me incomoda. Solução: auto-masssagem. Já conheço todos os pontos gatilho, todos os pontos de tensão no meu pescoço e nuca que causam a minha bendita dor de cabeça. Se e

Livro | O sol na cabeça

Imagem
Geovani Martins é um autor jovem e negro que amplia a voz da literatura marginal, quando em seus contos, nos revela de um forma íntima aspectos cotidianos da vida no morro. É super importante que jovens, como Geovani encontrem espaço no mercado literário, afinal a literatura pode ser um meio bastante elitista. Todas as histórias compartilham um eu lírico masculino, em sua maioria jovem, e se passam nas favelas do Rio de Janeiro. O que confere uma cara de inspiração auto-biográfica na obra. Os personagens principais de cada conto tem personalidades bastante diferentes, mas todos estão em busca do seu lugar no mundo. Seja questionando a lógica desigual das classes sociais e ultrapassando esses limites impostos socialmente. Seja reforçando a sua masculinidade usando armas como acessórios. Buscando um amadurecimento com o trabalho, ou buscando conforto para a solidão. Dentro das favelas nos esbarramos em papos profundos regados a fumaça de maconha, bem como reflexões indignadas