Livro | Kindred: Laços de sangue

Octavia Butler, autora deste livro, é conhecida no meio literário como "primeira dama da ficção científica". Algo importante de se ressaltar é a importância dela como mulher negra na literatura, principalmente nesse gênero, extremamente dominado por homens brancos.

Octavia Butler

Kindred é uma história de viagem no tempo. Sem deloreans ou tardis, aqui o impulso para essa viagem são os laços de sangue, como pode-se imaginar pelo subtítulo do livro. Dana, nossa personagem principal salta do século XX ao XIX, o que é um grande choque, mas poderia não ter grandes implicações se não fosse por ela ser uma negra caindo de paraquedas na Maryland escravocrata.

O que a mantem nessas idas e vindas entre o passado e o presente são os laços com seus antepassados; relações que se baseiam em sentimentos conflitantes de amor, temor e ódio. E Dana, que em sua época, é uma mulher livre, culta e empoderada, passa pela dificuldade de abrir mão de como se identifica, para se descobrir escrava. Dana tem alguns privilégios, evidentemente, por sua bagagem de conhecimento do futuro, e isso torna sua vida mais suportável, ao passo em que vemos esses privilégios sendo utilizados na luta contra o sistema. É curioso enxergar as relações de poder quando uma escrava negra tem mais educação e conhecimento que os senhorios brancos.

Aos poucos sua identidade de mulher livre fica nebulosa ao ponto dela se perguntar se é uma atriz desempenhando um papel de submissa, aceitando a exploração, ou se está apenas se enganando enquanto pensa isso.

A escrita de Octavia é maravilhosa. Eu fiquei tão envolvida que li essa história muito rapidamente, ansiosa pelo desfecho. Assim, fica clara a habilidade da autora em gerar empatia com os personagens, envolvimento emocional e sem largar mão do ritmo envolvente da narrativa. Em diversos momentos fiquei muito imersa nessa leitura, e os sentimentos de ódio e frustração presentes boa parte do tempo.

Rasguei o livro em vários pedaços e o joguei nas brasas. O fogo aumentou e engoliu o papel seco, e eu me lembrei de livros nazistas sendo queimados. As sociedades repressivas sempre pareciam entender o perigo das ideias "erradas".

Ler esse livro foi um ótimo entretenimento, uma boa oportunidade de conhecer um pouco sobre a história da escravidão nos Estados Unidos e os estigmas que a ela se relacionam. Pela escrita envolvente, narrativa rica, e representatividade, já me sinto motivada a ler mais livros da autora.

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