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Mostrando postagens de 2019

Rolezeirah e Vegetarianah - Bordejando no Capão (parte 3)

Ser vegetariana no Capão é muito de boas.  Durante a semana que passamos lá consegui me apaixonar pela culinária local, cheia de variedade vegetariana, vegana, orgânica. Percebemos uma forte onda naturalista, e faz sentido que boa parte da população não coma carne. Na Unidade de Saúde há até uma campanha de suplementação de Vitamina B12, mas isso é o de menos.  De uns tempos para cá tenho me aproximado da ideia e entendido que ao contrário do mito de que a comida vegetariana é muito cara. Seguir algumas pessoas como Vegano Periférico e Luísa Motta (Larica Vegana) me fez desmitificar essa visão. Na realidade, a comida vegetariana é muito mais acessível (mais barata) e pode ser muito gostosa, como comprovei no Capão. Digo isso porque vez ou outra faço refeições sem carne em alguns dias da semana, mas nada tão gostoso e bem temperado quanto o que experimentei nessa viagem. Mas falando da viagem. Houve dois lugares em específico que foram paradas obrigatórias durante qua

Diário de interna | Véspera de véspera de natal

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Ressuscitei o blog por incentivo de uma amiga. E inventei essa série nova também por incentivo dessa mesma amiga. Tem uma pitada de saúde mental aqui no meio, mas talvez eu explique isso outra hora. Ri sozinha agora, porque essa minha amiga me disse para parar de prometer textos que nunca vou escrever. Já contei para vocês que eu sou estudante de medicina, e que estou na reta final do curso: o internato. Hoje comecei o meu rodízio de cirurgia. Tivemos práticas no hospital antes, mas eu nunca me senti à vontade nesse ambiente. Me sentia pequena diante das cobranças, que nem eram tão grandes assim. E às vezes ainda me sinto dessa forma. Mas vamos lá: Primeiro dia. Véspera de véspera de natal. Chegamos em grupo: eu e mais três colegas. Com nossas roupinhas privativas cor de vinho. Apesar de conhecermos o labirinto dos corredores do hospital, foi inevitável nos perdermos. Acabamos descobrindo que não havia necessidade de estar usando as roupas privativas, já

Casa de Pedra - Bordejando no Capão (parte 2)

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Dando continuidade à narrativa... Quando chegamos na Vila de Caeté-Açu fomos diretamente à pousada que passamos a chamar de "casa". Engraçado como em tão pouco tempo já reconhecíamos aquele lugar como um lar. Colocamos nossas bagagens lá e partimos para o nosso primeiro compromisso com Áureo Augusto, famoso médico da UBS de Caeté-Açu. Mas em outro momento falarei sobre Áureo. Agora vamos conversar sobre a nossa Casa de Pedra. Ai, gente. Eu sei que minhas narrativas não são lineares. Mas organizo os textos da melhor forma que dá. Lá na Casa de Pedra além da hospedagem também acontecem aulas de Capoeira de Angola. Então certas noites ainda assistimos uma partezinha das aulas, enquanto jantávamos do lado de fora, admirando a luta e a lua. Dividi um quarto com mais três colegas. Eu e Rafa, ficamos em um mezanino com varandinha que ficava na parte de cima do quarto, enquanto as outras duas ficavam embaixo em suas caminhas. Acordar, levantar, ir até a varandi

Do Recôncavo para a Chapada - Bordejando no Capão (parte 1)

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Acredite ou não estou sendo cobrada a escrever sobre essa viagem.  É, apesar dos hiatos todos ainda tenho fãs. Creia. Vou dar a vocês um pouco de contexto antes de começar a narrar mais esse Bordejo: Sou estudante de medicina e atualmente estou no intenato - que é o nosso estágio - de Saúde Mental em Redes. Esse nosso rodízio do internato é bem diferentão. Perceba que não é um internato em Psiquiatria, mas em saúde mental, e isso faz toda a diferença. Mas explicar tudo isso é assunto para outro momento. Voltemos ao Bordejo. Uma das atividades do internato é uma imersão no Vale do Capão, que fica na região da Chapada Diamantina. Mais especificamente no município de Caeté-Açu, onde nos envolvemos em atividades da unidade básica de saúde local (vulgo postinho de saúde), além de conhecer a vila, e cuidar da nossa própria saúde mental também. O nome do projeto é "Trilhas e Raízes", e esse nome guarda uma relação com a natureza e com a ancestralidade, elementos chave de

Livro | O Conto da Aia (Margaret Atwood)

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Eu tinha dificuldade de ler esse livro porque já assisti a primeira temporada da série, e quando eu assisto alguma adaptação literária antes, fico com preguiça de ler. Mas como sempre ando quebrando meus padrões de leitura, resolvi ler mesmo assim. Então vamos lá. O Conto da Aia é um romance escrito por Margaret Atwood e publicado em 1985. Ultimamente tem se tornado ainda mais popular devido a adaptação para a série, de mesmo nome, da Hulu. A série é uma adaptação excelente, e já recebeu diversas premiações. É bastante fiel à história original do livro, com algumas pequenas diferenças como por exemplo a postura da personagem principal, que no livro é, de certa forma, mais resignada do que a da série, que se mostra mais revoltada. A história se passa em Gilead, uma nova teocracia que substitui o sistema político dos EUA após um golpe. Dentro dessa organização política os papeis de gênero são muito bem definidos, e a população é divida em castas que cumprem obrigações especí

Livro | O Dilema do Porco-espinho (Leandro Karnal)

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Esse livro é sobre solidão. Há um tempinho conheci uma youtuber incrível, que é a Adriana Cecchi (a.k.a. Redatora de M#$%*). Ela faz muitas indicações de livros, filmes e séries que ela mesma chama de desgraçamentos mentais. Quando conheci o canal dela peguei a dica desse livro. Pouco tempo depois ele surgiu na lista de opções do clube do livro que eu faço parte. Pensei: pronto, é agora que leio esse desgraçamento. Leandro Karnal tem uma escrita muito simpática e fluida, apesar de necessitar de umas pausas para assentar na mente algumas reflexões. Sinto como se ele estivesse conversando comigo. E nesse livro, especialmente, ele se torna de certa forma íntimo. Pois revela sua própria solidão, enquanto escritor, de encontro com a minha solidão de leitora. Bom, para começar: Você está familiarizado com o dilema do porco-espinho? É uma metáfora proposto por Schopenhauer, filósofo alemão, sobre a convivência humana. No frio, porcos-espinho se unem, para que o calor de seus corp

Comentários

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Eu amo receber comentários por aqui. Estava fazendo uma limpa no meu notebook e encontrei uns prints que merecem ser divulgados nos blog. Trata-se de uma amiga que achou mais prático fazer isso do que escrever na caixa de comentários do blog. Tudo bem, cada um com suas preferências, não é mesmo?

Livro | Vox (Christina Dalcher)

Comecei a ler "Vox" despretenciosamente, bem no meio do fim do meu semestre letivo. Sinceramente, estou tendo uma dificuldade para finalizar minhas leituras. Tenho demorado bastante com cada livro, mas também tenho me aventurado em obras não-ficcionais, mais teóricas, o que eu tinha uma certa resistência no passado, mas estou desconstruindo essa barreira aos poucos. Eu estava aqui de boas, faz tempo que não escrevo no blog (mas estou sempre retornando), até que eu li um capítulo que me apunhalou profundamente. E então eu quis aproveitar o embalo e escrever logo. Nem terminei de ler ainda, por isso vou deixar esse texto nos rascunhos, e quando eu terminar eu volto.  Sobre "Vox", deixe-me dar um pouco de contexto: o livro tem como protagonista a Doutora Jean McClellan, que narra sua experiência em uma realidade na qual as mulheres foram silenciadas. Literalmente. Nos EUA, todas as mulheres tem braceletes com contadores de palavras, e cada uma só pode falar 100 pa

(quase) Mais uma comedia romântica ruim

Enquanto desarrumação sua mala ela percebeu que tinha esquecido alguns itens pessoais fundamentais. Estava em um lugar novo, não conhecia bem a cidade. Mas lembrou-se que a caminho de casa tinha visto uma farmácia não muito longe dali. Vamos dar um pouco de contexto. Ela estava viajando sozinha. E estava hospedada na casa de uma amiga dessas que se faz à distância. Pensou em sair, ir até a farmácia. Conhecer um pouco a vizinhança não faria mal. E era tão perto. Não tinha como se perder, apesar de seu péssimo senso de localização geográfica. Foi até a farmácia. Tudo ok. Acontece que na volta percebeu um cara bem bonito fazendo uma corrida de leve, indo em direção a ela. Ela olhou pra ele e desviou o olhar. Antes que seus caminhos se encontrassem ela entrou na rua que dava para sua casa. Achou que fosse dessas situações que você cria um romance imaginário por 2 segundos e depois esquece. Mas não. O cara entrou na mesma rua que ela, desacelerou sua corrida para acompanhar

Viajando sozinha para o meu intercâmbio nacional | CG Parte 1

Eu faço parte de uma associação de estudantes chamada IFMSA. A (carinhosamente chamada de) IF oferece inúmeras oportunidades de crescimento pessoal e acadêmico, dentre os quais se encontra o intercâmbio nacional. Intercâmbio nacional sim, porque o Brasil é um país tão extenso e plural que as experiências de intercâmbio dentro do próprio país são incríveis. Me inscrevi para o intercâmbio em junho do ano passado. Mas tive alguns problemas com o devido a situações que fugiam do controle do comitê que ia me receber (lembram dos atentados de facções criminosas em todo o Ceará durante os meses de janeiro e fevereiro desse ano? Então). Assim, fui transferida para ou outro comitê. E o universo quis que fosse a UFCG, em Campina Grande, Paraíba. Devido aos tais problemas que me referi, toda a organização para a minha recepção foi realizada em tempo recorde de aproximadamente 2 semanas. Nem sei como posso expressar a gratidão que tenho pelo comitê IFMSA Brazil UFCG por terem me recebido tão

Livro | Eu sou melancolia, sensualidade e timidez (Deise Oliveira)

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Esse livro é um monólogo poético e intenso. Como prometido pela autora, inúmeros textos são costurados e nos deixam vidrados em uma narrativa tão particular de auto-descoberta da protagonista como "mulher negra, nordestina, baiana, da arte, da luta e do que mais eu quiser". E nesse "mais" cabe uma enxurrada de sentimentos. Afinal não é fácil descobrir sua própria identidade, e ainda por cima ser atravessada por amor e decepção. O livro é composto por uma sequência lógica, que perpassa os três temas que dão título à obra. Ao mesmo tempo em que cada um - melancolia, sensualidade e timidez - tem seu espaço, eles se invadem e se misturam na complexidade do que é ser mulher, se apaixonar, se decepcionar e adoecer. As poesias se conectam e contam uma só história. Às vezes os versos se desmontam e tomam uma forma híbrida meio poema, meio prosa. Faz com que eu me pergunte se ainda lerei crônicas e contos da autora. São versos muito profundos sobre o "ser"

Livro | O milagre da manhã (Hal Elrod)

Depois que comecei nessa onda de livros de "desenvolvimento pessoal" não parei mais. O milagre da manhã surgiu em uma das conversas no clube do livro e depois ressurgiu em uma conversa com uma amiga. Ela não tinha lido, mas tinha recebido uma ótima indicação. Então resolvi ler. Hal Elrod inicia o livro dizendo que ele não é um escritor. Pode até ser, mas ele é um cara muito inteligente que soube transformar um período difícil da sua vida no propulsor que ele necessitava para crescer. E passa o livro inteiro vendendo essa ideia para os leitores (bem como fazendo propaganda da sua comunidade no facebook, do seu site, do seu outro livro, e por aí vai). O milagre da manhã é um método simples. E eu acho uma proposta muito interessante. Vou até iniciar  meu milagre da manhã (posso até vir depois contar como as coisas estão andando). Mas 196 páginas me pareceu demais, às vezes até repetitivo. O método consiste em acordar pelo menos uma hora antes do seu horário normal e

Livro | A sombra do vento - (Carlos Ruiz Zafón)

Ainda vivendo a minha crise literária, resolvi entrar em um clube do livro. Aí sim. Tô bem empolgada porque o pessoal faz várias indicações e estão me estimulando a ler mais. Meu skoob está cheio de metas.  Mas vamos ao que interessa. O primeiro livro do ano foi "A sombra do vento", que é o primeiro livro da série "O cemitério dos livros esquecidos". Logo de cara somos convidados a descobrir o que é o tal do cemitério dos livros esquecidos, que é uma imensa biblioteca descrita de uma forma mágica, e é apresentada ao nosso protagonista, ainda criança. Nesse lugar Daniel escolhe um livro do qual deveria cuidar para sempre, e a partir daí se apaixona pela leitura. A sombra do vento, principalmente no início, é uma declaração de amor à leitura. É lindo ver Daniel descobrindo e se apaixonando pela leitura. O culpado de tudo isso é Julian Carax, autor do tal livro escolhido por Daniel no "cemitério dos livros esquecidos". O livro de Carax, cujo título é

Livro | Mindset (Carol Dwek)

Repito o que disse quando li O poder dos quietos : Se eu estivesse numa livraria eu não compraria esse livro. Esse título de "Nova Psicologia do Sucesso" me deixa com o pé atrás. Essas frases de efeito não me convencem, sabe? Mas ele foi muito bem indicado por uma amiga. Muito bem indicado mesmo. E então eu resolvi ler. Na verdade depois dessas experiências estou começando a mudar minha visão com relação a esse tipo de livro. Primeiramente: o que é mindset ? Trata-se de uma atitude mental. Uma forma de pensar diante das situações da vida, que pode ser que não percebamos, mas segue uma lógica.  Assim a autora defende a existência de dois grandes grupos: o mindset fixo e o de crescimento. Ao meu ver, a principal mudança entre um grupo e outro está em como eles encaram os fracassos. No primeiro grupo o fracasso é tido como uma coisa ruim, já o segundo pensa nos fracassos como uma oportunidade de aprendizado. De forma simplificada, no mindset fixo a pessoa a

Livro | Quarto de despejo (Carolina de Jesus)

Sempre que se falava em mulheres negras de grande importância para a literatura nacional o nome de Carolina de Jesus aparecia. Esse livro já me foi indicado diversas vezes, e aproveitei as férias para ler. Foi a quebra de um jejum. Porque há tempos eu não lia e também nunca tinha lido um diário. Quarto de Despejo: Diário de uma favelada conta o dia-a-dia de Carolina e seus três filhos numa favela em São Paulo. É uma leitura impactante, porque a forma como a autora escreve a sua realidade nua e crua nos leva a experimentar as sensações de viver numa comunidade durante a década de 1940-1950, quando as favelas começavam a surgir em São Paulo e a infraestrutura era extremamente precária. A autora mistura uma escrita culta com uma linguagem bastante coloquial, e é assim que descreve onde vive, faz relatos da sua vida e da convivência em comunidade, e tudo isso com força e leveza emocionantes. Vez ou outra ainda somos brindados com constatações do dia-a-dia um tanto quanto poéticas. C