Livro | Eu sou melancolia, sensualidade e timidez (Deise Oliveira)

Esse livro é um monólogo poético e intenso. Como prometido pela autora, inúmeros textos são costurados e nos deixam vidrados em uma narrativa tão particular de auto-descoberta da protagonista como "mulher negra, nordestina, baiana, da arte, da luta e do que mais eu quiser". E nesse "mais" cabe uma enxurrada de sentimentos. Afinal não é fácil descobrir sua própria identidade, e ainda por cima ser atravessada por amor e decepção.

O livro é composto por uma sequência lógica, que perpassa os três temas que dão título à obra. Ao mesmo tempo em que cada um - melancolia, sensualidade e timidez - tem seu espaço, eles se invadem e se misturam na complexidade do que é ser mulher, se apaixonar, se decepcionar e adoecer.

As poesias se conectam e contam uma só história. Às vezes os versos se desmontam e tomam uma forma híbrida meio poema, meio prosa. Faz com que eu me pergunte se ainda lerei crônicas e contos da autora. São versos muito profundos sobre o "ser", às vezes me sentia lendo um diário, invadindo a vida da protagonista, mas não como se fosse uma intrusa, afinal o convite foi feito. E muitos versos  são sobre a construção da poetisa, sobre a razão (a necessidade) de se escrever.

A leitura não é fácil, por que é muito verdadeira e traz elementos com os quais o leitor é capaz de se identificar, ao mesmo tempo em que a arte explora temas muito intensos como o amor, putaria, sensualidade, tristeza e melancolia. É uma montanha russa, e a gente acompanha do êxtase à desolação.

Mas Deise nos alerta logo nas primeiras páginas que o livro é o manual de como acabar com ela. Sendo assim, não pode ser algo de fácil digestão. Dói ler as acusações e apelos. Mas se me deixa aflita como leitora, não imagino o que causa na protagonista.

Tem papeis espalhados pela mesa, momentos registrados com caneta, os dedos calejados de escrever, e o coração ferido por sentir.

Tenho um carinho especial por essa autora porque frequentamos a mesma universidade e nos aproximamos através do instagram, que foi a janela por onde acompanhei toda a evolução dela como artista e do grande esforço que foi despendido para conceber, publicar e vender o livro que tenho em minhas mãos.

Se eu tivesse que resumir em uma palavra seria: INTENSO


O "Destrua este diário" de Keri Smith me ensinou a fazer intervenções nos livros


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