Livro | Papeis Avulsos


Antes de começar a ler essa compilação de contos movida pela obrigatoriedade do vestibular não imaginava que fosse gostar tanto, principalmente por conta do preconceito que tenho com livros clássicos (estou melhorando isso). Publicado em 1882, e estamos falando de ninguém menos que Machado de Assis, ele que, como meu professor de literatura costuma falar, é um autor tão completo e complexo que em si próprio é uma escola literária inteira. Machadianismo.
Eu ia ler só O Alienista e Teoria do Medalhão, que são os mais cobrados nas provas, mas foi tão bem recomendado que resolvi ler Papeis Avulsosinteiro. Logo no prefácio o autor nos explica o título. “Papeis Avulsos” nos traz uma ideia de desorganização, que os contos nada tem a ver uns com os outros, mas não. Até mesmo por se tratar de Machado, e ele ter uma escrita muito particular os contos geralmente traziam uma temática parecida.
Em todos, sem exceção, vemos a questão da ascensão social. Os personagens fazem de tudo para conseguir status, e eu diria que o caso em que isso fica mais explícito é na Teoria do Medalhão, no qual o pai aconselha o filho a ser aquilo que a sociedade deseja que ele seja, sem dar atenção às suas próprias vontades, para que ele seja um homem respeitável. Ele deveria deixar de lado sua própria identidade, deixar de viver sua vida para que os outros vivessem por ele.
O papel da sociedade é sempre questionado. E essa chega a ser uma temática atual: nos preocupamos demais com o que os outros vão pensar de nós e acabamos nos perdendo e deixando de ser quem somos.
Me envolvi com o delírio da Chinela Turca, o Alienista, mais louco que qualquer outro dos seus pacientes e o inacreditável Segredo do Bonzo - dentre outros contos, como D. Benedita, La Serenissíma República, Verba Testamentária....

—Suponho o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair a pérola, que é a razão; por outros termos, demarquemos definitivamente os limites da razão e da loucura. A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia e só insânia. (trecho de O Alienista)

É uma obra insana. No bom sentido.

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