Diário de Interna | Mega intenso

Cheguei no hospital às 8 da manhã e saí pouco mais de 8 da noite. Doze horas. Parece pouco, né? Parece mesmo. Mas diga isso pros meus pés, pernas, costas e pescoço. Será que haverá um diário de interna em que eu não reclame do cansaço?

Chegamos na Unidade de Tratamento de Queimados. Um pouco atrasados, é verdade, mas sem problemas: a enfermaria estava apenas com 3 pacientes internados, então a visita seria breve. No dia anterior demos 7 altas. Foi uma verdadeira festa, só risos. Esse 2020 começou muito bem, com tanta gente indo pra casa na primeira semana do ano.

Depois de um café da manhã na copa da UTQ, iniciamos nosso dia de trabalho com mais uma alta. Mais alegria, era um paciente que já estava internado há mais de 40 dias por conta de queimaduras nas solas dos pés que tiveram muitas complicações no decorrer do tratamento. Me lembro da semana anterior, ele calçando fraldas, saindo andando o mais rápido que conseguia, tentando fugir da enfermaria. Hoje, finalmente, não precisaria fugir, estava livre para ir pra casa.

Nesse dia tivemos uma cirurgia de enxertia de pele, que basicamente consiste em coletar pele sadia de uma parte do corpo para enxertar em uma parte ferida. Entrei nessa cirurgia junto com meus preceptores e fiquei contente com meu desempenho. Instrumentei, auxiliei em diversos processos e ainda fixei um dos enxertos. A mesa que montei estava mais bem feita do que a da semana anterior, prometi que estudaria para ter um melhor desempenho, e assim fiz. A pequena experiência que adquiri em minha primeira semana também foi importante para que eu me apropriasse do ambiente do centro cirúrgico, dessa vez me senti mais à vontade. E por mais que não tivesse um desempenho perfeito - como já era de se esperar -, percebo que estou evoluindo, e isso me deixa feliz.

Houve dois momentos desagradáveis nesse dia. Os quais marcaram o dia, mas que não quero me delongar muito detalhando. Um em que recebemos uma bronca de uma forma muito desnecessária, que só faz salientar a hierarquia existente dentro do hospital e nos lembrar que somos a base da cadeia alimentar. Apesar da injustiça, eu fiquei calma, não me senti afetada. E outro momento em que achei que um paciente iria morrer durante um procedimento de rotina. Essa experiência com o paciente me deixou bem tensa. No fim das contas deu tudo certo e ele ficou bem, mas experimentei uma sensação de nervosismo e impotência gigantes.

Nesse dia, cheio e intenso, com seus altos e baixos, pensei que a cirurgia não é tão ruim assim. Não é tão ruim quando pensei que seria. Sou capaz de lidar. Que bom.

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