Livro | Meia-noite e vinte (Daniel Galera)

Ganhei esse livro de presente de um amigo. Ele leu, amou, me indicou e depois me presenteou com o livro pra me obrigar a ler, e ainda com a missão de discutirmos sobre ele depois. Esse é o melhor tipo de leitura, aquela que você pode discutir com alguém depois. E esse livro, em especial, é uma leitura um pouco fora do convencional, tanto que as resenhas dele variam bastante entre o amei/detestei. E geralmente as indicações de Lucas são todas assim.

Um adendo: A essa altura vocês já sabem que não faço resenhas, não é? Só jogo umas ideias e vamo ver no que dá.




A história contada em Meia-noite e vinte não é linear, mas é permeada de flashbacks que fizeram com que eu desistisse de entender a temporalidade das coisas. O livro se passa na Porto Alegre de 2014 e conta a história do reencontro de 3 amigos após a morte Andrei, que seria o elo do quarteto. Andrei era um artista. Aliás, na verdade, o quarteto composto por ele, Emiliano, Aurora e Antero era um grupo de artistas, mas apenas o Duque, apelido de Andrei, permaneceu na carreira de escritor após a extinção do Orangotango, periódico digital de muito sucesso, escrito pelos quatro em meados da virada do milênio, quando a internet ainda era terra de ninguém.

Com o tempo, o Orangotango se extinguiu, o grupo se separou, cada um seguiu sua carreira, mas os laços permanecem. Sabe aquele amigo que você não vê há muito tempo, mas quando você vê parece que o tempo não passou? Foi dessa forma que interpretei o reencontro. E a morte de Andrei traz uma reflexão à vida de cada um dos três restantes, sobre a finitude da vida, das relações humanas e até da humanidade. Revivem e rememoram suas expressões experimentais artísticas, permeadas pelos desgraçamentos de cada cabeça e seus momentos intensos como o grupo de jovens que um dia foram.

É uma história ordinária. Me trouxe uma nostalgia de algo que eu não vivi, que era essa liberdade dos primórdios da internet e da juventude da geração X. Por tudo ser tão ordinariamente real, tenho a sensação de conhecer os personagens de longe, e me enxergar como alguém que olha pra trás e sente saudades da fase de irresponsabilidades e inconsequências.

Como pode a leitura ser leve e ao mesmo tempo intensa e densa? Posso dizer que fiquei intrigada por Emiliano e sua relação nada saudável de violência/virilidade/sexualidade, Antero com sua síndrome de Peter Pan e Duque com sua liberdade um tanto quanto questionável e sua forma misteriosa de se expôr e de se esconder do mundo.

Mas no fim, me identifiquei muito mais com Aurora e sua melancólica sensação de finitude. Essa angústia de que o mundo está acabando aos pouquinhos é algo que permeia toda a história. Assim como todo ano tem uma profecia de que o mundo vai acabar, vide o bug do milênio, sempre passamos despercebidos da meia-noite e vinte e continuamos todos aqui, com a certeza de que a vida continua. 

Só não se sabe por quanto tempo. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Livro | Os sete maridos de Evelyn Hugo (Taylor Jenkins Reid)

Livro | Almas Fartas - Matheus Tévez e Ruan Passos

Alien azul