Diabinho

Sempre me senti nervosa com a ideia de ter que escrever um texto de agradecimento para pôr no santinho do convite de formatura. Até que chegou o momento de enviar o bendito texto. Inicialmente me ative às generalidades sempre presentes nesse tipo de texto, mas não me senti bem. Não era eu.

Me desprendi das expectativas e finalmente consegui escrever algo que fizesse com que eu me sentisse satisfeita. Mas eu tinha direito a apenas 1800 caracteres. Ora, mil e oitocentos caracteres não me pareceram suficientes para escrever tudo o que gostaria, ou agradecer a todos a quem gostaria, ou de manifestar os motivos de minha gratidão.

Então me desprendi inclusive da formatação e dos mil e oitocentos caracteres e escrevi tudo o que senti vontade.

Quando passei no vestibular, uma amiga me perguntou se eu tinha certeza que faria medicina, já que eu era uma pessoa tão sensível, e a área era supostamente tão fria. Apesar de ter insistido, e de saber das boas intenções do questionamento, essa reflexão alugou um triplex na minha cabeça. Por bastante tempo vivi negando a minha capacidade de ser médica, por causa desse dentre outros motivos.

Hoje me alegro com a descoberta de uma medicina que acolhe. Isso graças a formação prévia em Bacharelado Interdisciplinar em Saúde e nos inúmeros encontros com mestres e mestras, das mais variadas áreas, porém destacando a área médica. Aqui cito Carlos Wagner com o cuidado que tinha em avaliar as dores da alma tão bem quanto as dores do corpo, João Neiva com sua dedicação para além de qualquer expectativa no ensino de seus alunos - dou destaque às práticas, melhores do que as teóricas -, ou no cuidado de seus pacientes. Além de Marla Niag, professora querida, que nos adota como filhos, dona das aulas mais incríveis, e obstetra das mais sensíveis.

Felizmente ou não, tudo em mim é muito intenso, e os fins são ainda mais. Agora me despe(da)ço lembrando das perdas e percalços, e renasço ao me dar conta de tudo que construí(mos) a partir das escolhas que nos tornam únicos. Me permito despedaçar.

Me orgulho de como vivi essa graduação, de ter feito pesquisa,
                                                                                                    extensão,
                                                                                                        intercâmbio,
                                                                                                            intermed,
                                                                                                                cheerleading.
                                                                                                                De ter feito grandes companheiros para a vida e ter me refeito por completo. 

Hoje carrego uma enorme bagagem, deveras pesada, mas me reestabeleço porque nunca estive só - e porque faço terapia. Além da minha conexão com o divino, a qual não se restringe a religião, tive minha Grande Família Buscapé, em especial os avós Fia, Helenize, sempre presentes, sempre preocupadas e sempre me apoiando e demonstrando seu carinho, Marivaldo e Joana, que mesmo distantes, cada um a seu modo me fazem me sentir querida. Minha mãe, Helenimari, que sempre esteve a meu lado me incentivando, a mulher a quem puxei a força de uma cachoeira, com sua perseverança e a emoção vívida em choro fácil. Agradeço ainda a meu tio Victor que me forneceu o suporte de cerveja artesanal, digo, emocional, e com quem a cada dia tenho me sentido mais conectada. Tive meus colegas e amigos, minha eterna República que já foi Los Porongas e hoje pertence aos gatos, onde fiz meu lar desde o início na companhia de Kauai. Devo agradecer também às melhores parcerias, essas pessoas que escutam meus lamúrios noite e dia Carol, Joa, Rafa, Lucas e Bia, que apesar de não gostarem de receber ligação, vez ou outra atendem minhas videochamadas. Além dos meus companheiros Teka e Nadhab, tendo se aproximado muito mais fortemente na reta final, maravilhosos companheiros luta. E, claro, Minhas Maçãs do Amor: Carol, Bel e Lory, que mesmo distantes se fazem presentes em meu coração e whatsapp.

Agradeço ainda aos grupos que participei e me marcaram profundamente, como a IFMSA Brazil, na figura de Alana que foi quem enxergou algum potencial em mim lá no iniciozinho, abrindo portas para oportunidades incríveis; o LabTrans, que me apresentou a Fran, uma das pessoas mais excepcionais que conheci na vida, que me fez sentir querida e desafiada e me tirou da rota tradicional para nunca mais voltar; a LACMed, que me fez aguçar o raciocínio clínico; e o Raízes, na figura de Lidiane, essa mulher apaixonante com sua coragem e singular visão, que proporcionou a existência desse espaço de forte conexão. 

Obrigada, UFRB, por ser esse espaço de amadurecimento. Agradeço imensamente a toda confiança e às condições que tornaram essa conquista possível.





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