a máquina de fazer interrogações
eu ia escrever sobre a máquina de fazer espanhois, de valter hugo mãe. mas meu fluxo de pensamentos me levou para outro lugar, portanto desisti da resenha, que eu nem gosto de chamar de resenha de qualquer forma, e resolvi me jogar em outras memórias e outros relatos bastante conectados a leitura desse livro. coisa pessoal.
comecei a ler a máquina com bastante estranhamento pela escassez de sinais de pontuação, principalmente por conta da falta de sinalização dos diálogos. e agora cá estou eu experimentando o estilo e me sentindo muito estranha. eu gosto das minúsculas, sim. mas gosto demais das possibilidades dos outros recursos, sou fã da eloquência das exclamações, e da dramaticidade das interrogações. é tão difícil imprimir a emoção sem tantos desses elementos. assim acho eu. mas hugo consegue, saramago consegue, raduan nassar consegue.
tenho uma história engraçada com relação a saramago de quando eu li ensaio sobre a cegueira. na época eu era adolescente e achei o livro simplesmente incrível. mas a leitura se deu com um livro pirata, num pdf vagabundo. as vezes eu baixava livros em pdf com uma qualidade duvidosa, sabe, com alguns defeitos que não comprometiam o entendimento do texto. e eu achava que as alterações na pontuação que eu percebia no texto desse livro em específico eram defeitos da minha cópia pirata, não sabendo, em minha ignorância iletrada que se tratava mesmo do estilo do autor. com certeza hoje eu leria com outros olhos.
acaba que a pontuação sem o seguimento da regra formal dá um ritmo à história semelhante à oralidade, ou até ao pensamento. tenho um amigo que é bastante fã desses três autores que citei. e esse meu amigo se identifica bastante com os estilos desses escritores justamente porque ele tem um pensamento acelerado, e consegue ler de maneira mais fluida, mais orgânica.
Eu, pelo contrário, sou fã das pausas. Eu digo. Repito. Pauso. Repito. Até exageradamente.
um pouco de ligeireza me faria bem.
certa vez escrevendo um texto mais ou menos acadêmico, ora por que mais ou menos acadêmico. porque era um relato acerca de um trabalho de extensão universitária, porém um trabalho que não tratava do conhecimento científico tradicional, e que merecia um relato que fugisse do tradicional. então me senti a vontade para praticar minhas narrativas. e a orientadora saiu editando todas minhas redundâncias. senti meu eu literário podado.
Não que eu me ache grande escritora, longe de mim. É que eu só comecei a perceber esse meu jeitinho muito recentemente. E me sinto bem em saber que tenho um jeitinho. Me sinto autêntica. Uma coisinha pequenininha.
e foi assim que uma breve reflexão sobre como eu sou completamente oposta ao estilo de hugo veio à tona e se tornou este texto. quem sabe outro dia escrevo minha análise da máquina. mas hoje não.
Senti esse texto um exagero, um despropósito, um troço sem sentido algum. Mas já li por aí tanta coisa exagerada, sem próposito e sem sentido algum, que não faz mal colocar minhas letrinhas no mundo.
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