Enzo

Ter que ir pra rua. Sacar dinheiro. Pior: dinheiro contado para pagar contas. Vou pra rua sozinha sem problemas, mas hoje estava carente e coincidiu de Joaquim também precisar ir no centro.

- Ah, Manu... bem que a gente poderia morar perto do centro.
- Sim, Joaquim. Perto do centro e longe da universidade. Isso faz todo o sentido.

Traçamos todo o nosso itinerário, como pessoas bem organizadas que não somos, mas de vez em quando precisamos ser. Nós dois estamos passando por dificuldades financeiras. Sabe como é... estudante, fim de semestre, inscrições para eventos, banners para imprimir, intervenções para bancar.... essa universidade só me deixa mais pobre e cansada a cada dia.

- Manu, eu tô tão sem dinheiro.
- Sim, Joaquim. Percebi isso pela barganha que fez assinando a Sky mesmo sem o pacote HBO.


Aqui em Santo Antônio dá pra ir a qualquer lugar à pé, basta ter disposição. Coisa que nos falta muito nos finais de semestre. Sendo assim, quando alguém tem uma necessidade muito grande de ir na rua, toooodo mundo em casa aproveita pra pedir um favor. Como sou pessoa de confiança, sempre me dão assuntos financeiros para serem resolvidos. O problema é a biometria. Tenho que ficar caçando os caixas que não fazem reconhecimento biométrico. Me estressei, porque todos estavam com filas enormes e nenhum estava funcionando com o que eu precisava. Saí desaforada e Joaquim me seguindo. Ele ainda tinha que ir em lugar que ficava no lado completamente oposto ao que eu precisava ir (ér, o planejamento do nosso itinerário não foi tão eficiente assim. ou eu que não entendi a proposta dele...):

- Ih, Joaquim! Tu vai pro lado de lá, eu vou pro lado de cá e depois cada um vai pra suas casas!
- Larga de xou, xuxa! Que você não vai me abandonar. Vamos pagar minha internet e depois passamos na caixa, que é caminho.
- É mesmo.

No lugar de pagar a internet sentei pra esperar por Joaquim. Fiquei bem do ladinho da mesa com café sem biscoitos. Apareceu um menininho com a farda da escola toda suja de nescau. O nome dele é Enzo. Como sei o nome dele?

- Menino!! Para com isso! Kauai
- Larga esse negócio, Enzo!
- Vem pra cá, Enzo!

Por causa disso.

Enzo simplesmente se aproximou da mesinha, pegou um copinho de café, aqueles plásticos de 50 ml. Abriu o açucareiro.

Encheu a colher de açúcar.
Meteu a colher na boca.

- Enzooooooo!!! - o pai gritou e puxou ele pelo braço enquanto o menino ainda tava lambendo os beiços.

Depois Enzo ficou me olhando com aquela cara os meninos traquinas tem. Fingindo estar bebendo alguma coisa no copo de café vazio. Eu e Joaquim desconfiamos que ele tenha enchido o copinho de açúcar.
Nunca saberemos ao certo.

Comentários

Postar um comentário

Dispa-se ou vista-se. Como preferir.

Postagens mais visitadas deste blog

Livro | Os sete maridos de Evelyn Hugo (Taylor Jenkins Reid)

Livro | Almas Fartas - Matheus Tévez e Ruan Passos

Alien azul