Livro | Cobra Norato

Faz tempo que não atualizo o blog. Faz tempo também que não leio um livro que não fosse por causa da universidade. O último foi Eu Sou o Mensageiro. E eu já tinha lido antes. Adoro esse livro, por sinal.

Mas não quero deixar esse blog de lado, então vou escrever sobre um livro que precisei ler para um seminário de Arte, Cultura e Atualidade. Não tenho disciplinas, mas módulos. Achei meio confuso no início, mas agora acho que já me acostumei. Mas esse post não é pra falar sobre os meus módulos. Chega de enrolar.

Estávamos estudando o modernismo brasileiro e minha equipe ficou responsável por apresentar a vida e a obra de Menotti del Picchia e Raul Bopp. O professor emprestou o livro Cobra Norato de Raul Bopp. Eu li e achei bem legal. Um tanto estranho. Mas legal.

Bopp viajou muito pelo mundo todo, mas foi na Amazônia que ele se descobriu e criou a obra literária mais importante do Movimento Antropofágico. Eu especifiquei "literária" porque o quadro Abaporu de Tarsila do Amaral, apesar de mais famoso, divide a mesma importância. Trata-se de um poema épico que tem como protagonista o Cobra Norato, que é uma figura do folclore amazônico. A narrativa é feita num estilo quase telegráfico e gira em torno da busca de Norato pela filha da Rainha Luzia. Para encontrar sua amada ele é desafiado a completar algumas missões.

Mas antes tem que passar por sete portas, 

ver sete mulheres brancas de ventres despovoados, 

guardadas por um jacaré. 

- Eu só procuro a filha da Rainha Luzia. 

Tem que entregar a sombra para o bicho do fundo. 
Tem que fazer mirongas na lua nova. 
Tem que beber três gotas de sangue. 


- Ah, só se for da filha da Rainha Luzia! 

Na floresta descrita por Bopp as árvores falam e os seres mitológicos têm vida. É tudo muito fantástico e envolvente. As descrições dos cenários são muito marcantes e ele valoriza bastante a linguagem típica da região amazônica. Tanto é que utiliza termos que até hoje não entendo muito bem o significado, mas nada que prejudique o entendimento da história.

Esta é a floresta de hálito podre 
parindo cobras. 

Rios magros obrigados a trabalhar 
descascam barrancos gosmentos. 
Raízes desdentadas mastigam lodo. 

A água chega cansada. 
Resvala devagarinho na vasa mole. 

A lama se amontoa.

Me encantei por Cobra Norato. E não entendi como o autor de uma obra tão importante não é tão famoso quanto outros nomes ligados ao modernismo brasileiro. Acredito que isso tenha ocorrido por que Bopp se dedicou mais à carreira diplomática do que à literária.

Acabei encontrando uma apresentação do Giramundo Teatro de Bonecos que ao meu ver retrata com perfeição o poema. Todo o texto da peça do Giramundo, é, inclusive, a reprodução quase que integral do poema de Raul Bopp. Ficou curioso? Assista :)

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