Postagens

Microbiologia, vacinas e registros

Imagem
Nesse último mês eu estava fazendo um estágio no laboratório do hospital. Estava me sentindo em casa. Sabe, eu amo microbiologia. Acompanhar o crescimento dos microorganismos. Observar como cada agente se apresenta com colônias de cores, formatos, texturas e cheiros diferentes. A microbiologia é linda, eu adoro. Desde a faculdade eu sou fascinada pela microbiologia, e talvez isso tenha pesado para que eu escolhesse me especializar em infectologia. Estando no estágio do laboratório eu não tinha grandes obrigações, afinal o laboratório não poderia depender de mim para funcionar. Então a princípio eu apenas observava os técnicos trabalhando. Semeando nas placas. Corando lâminas de gram e ziehl. Testando coagulase.... seguindo o dia-a-dia. E até apenas isso já estava sendo bom demais. Tive "sorte" de estar em um mês com muitos achados interessantes, entre criptococos e bactérias multirresistentes. Até que na minha ousadia, com as lembranças da minha época de monitoria de microbio...

Posso?

Faz tempo. E eu nem lembrava quanto. Na verdade faz menos tempo do que eu pensava. E isso nem é importante mesmo. Só me deixa ter direito a um pouquinho de futilidade. Eu tenho esse direito, não tenho?    O direito de não fazer sentido.    Se tenho, me deixa aproveitar dele hoje. Não estou afim de ser direta. O dia-a-dia já me obriga a ser direta o suficiente. E a obedecer as normas cultas o suficiente. Eu tenho esse direito, não tenho?    O direito a uma licença poética.    Não sempre, só de vez em quando mesmo. Já não lembro mais das minhas motivações. Vim aqui corrigir uns erros imaginários que nem são tão importantes assim.

Lucio

Estávamos os três almoçando enquanto uma colega contava que um médico idoso que a estava supervisionando deu em cima dela. Ele não chegou a ser um assediador nojento, abordou ela com certo charme até, convidando ela para jantar. Mas o momento não parecia o mais adequado. Além do que a colega não tinha mesmo interesse. - E você não aceitou o jantar?  - Não! Ele tem tipo... Duzentos anos!  - Oxe, se fosse eu, eu ia. - Tu ia o quê Lúcio! - Ia mesmo. Se eu fosse mulher eu não ia prestar não, gente. 

indo para a semana número sei lá quanto

Imagem
Faz pouco tempo que comecei a dar plantões, mas parece até que tem mais tempo. Salvei algumas vidas, frustrei algumas outras, enchi muito o saco dos meus colegas, discutindo casos em que me sentia insegura. Vivi bastante coisa, mas ao mesmo tempo me pergunto quando vai passar essa sensação de medo do que está por vir. Quando eu vou começar a ir em paz? Estou aqui arrumando minha mochila com medo. E se eu não souber lidar com o que surgir amanhã?  As vezes acho que a enfermagem passa por cima de mim, e isso me deixa ressentida. Mas também se não fosse por elas eu estaria perdida. Rimou sem querer, mas foda-se o eco, eu até gostei. Comecei a escrever este texto um mês depois da minha formatura. Ele ficou aqui perdido no meio dos rascunhos e é muito engraçado - talvez desesperador - que a sensação continue aqui. Quase a mesma. Quase é bom. E hoje minha vida está infinitamente diferente de como estava naquela época, mais ou menos um ano atrás. Não tô nem mesmo mais na mesma cidade. Est...

Alien azul

Imagem
E lá estavam as estrelas, perfeitamente visíveis. Gostaria de saber identificar constelações, parecia ser um céu propício pra deitar na areia da praia, olhar pra cima e dar nome às estrelas. Não deitei na areia, apenas olhei pra cima por um breve instante que pareceu ter durado muito tempo. Mas com certeza não foi uma contemplação demorada, essa é só a impressão que dava diante da atmosfera do festival. Um negócio meio etéreo. Apesar de que eu estava completamente sóbria.  Estava em frente a um dos palcos, rodeada por pessoas várias desconhecidas. Estranhamente confortável no meio da multidão. Tocava um techno que eu nunca havia escutado antes: Era um grupo de músicos instrumentais que tocavam sopro e percussão junto com batidas de música eletrônica. Technobrass. Surreal de bom. Pulava ao som do techno e via a beleza da lua agora já entremeada de nuvens. A banda toca uma música chamada Praia. Propício. Em meio às batidas da música as palhas do coqueiro ao meu lado também começam a ...

Livro | Primeiro eu tive que morrer - Lorena Portela

Imagem
A vida é feita de ciclos. Ou de fases. Ou de ondas. Ou de mergulhos. Quando digo isso estou me misturando com o livro. Me misturando com essa história de uma mulher que poderia ser eu. Uma mulher adoecida por uma busca de perfeição profissional. Adoecida por traumas passados. Impedida de viver sua afetividade devido ao medo de repetir os mesmos erros, de recair nas mesmas armadilhas. A protagonista sem nome, a qual acompanhamos nesse romance de estreia de Lorena Portela, é "obrigada" a tirar um período de férias após um burnout. É uma história de cura e redescoberta, que cai em alguns clichês, trata de alguns temas pesados a partir da abordagem do sofrimento psíquico, mas que tem uma narrativa muito leve e gostosa.  A história junta várias mulheres em seus traumas e alegrias. Mulheres diferentes, vindas de diferentes lugares sociais e geográficos, que se curam juntas. Acho bonita a irmandade que se forma num processo de ressignificação da dor sem cair numa romantização desse ...

Tudo

Imagem
Completei um aninho. Dia 30 de novembro foi meu aniversário. Faz um ano que me formei em medicina. Um ano que tenho trabalhado como médica nas emergências e postos de saúde da vida. Faz um ano que minha vida mudou completamente. Que tive que fazer várias escolhas difíceis, das quais não me arrependo. Pelo contrário, me sinto bastante orgulhosa da estrada que me trouxe até aqui. Por tudo. Saí da universidade bem imatura, e tenho aprendido bastante na prática. Tanto com as situações que preciso enfrentar junto com os pacientes, quanto com as dificuldades no trato com as equipes com as quais trabalhei. Passei por tantos lugares aqui no interior para o qual escolhi retornar. O interior me ensinou muito. Me ensinou a ser tudo. Tudóloga. Não tem sido fácil, meus amigos. Me sinto feliz com todas as mudanças que fizeram com que eu me tornasse mais forte. Não vou fingir que tem sido só alegrias. Esse trajeto de 1 ano também tem muita mágoa, ressentimento, raiva e tristeza. Pelas limitações técn...